"- Queria que aquelas águas fossem azuis. E não eram. Eram águas noturnas, e como sofri então, esforçando-me para lembrar dos mares que os sentidos incultos de um jovem tomaram como certos, que uma memória indisciplinada deixou escorregar para a eternidade. O Mediterrâneo era negro, negro nas costas da Itália, negro nas costas da Grécia, sempre negro, negro quando - nas poucas horas frias antes do alvorecer, enquanto Cláudia dormia, cansada de seus livros e tão emagrecida que despertava sua fome de vampiro - eu baixava uma lanterna até o vapor para que o fogo batesse nas águas, e nada surgia naquela superfície escura a não ser a própria luz, o reflexo daquele feixe que viajava sempre comigo, um olho fixo que parecia cair sobre mim vindo das profundezas e dizer:
- Louis, sua indagação só pertence à escuridão. Este mar não é o seu mar. Os mitos dos homens não são os seus mitos. Os tesouros dos homens não são seus."
trecho do livro Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice
Olá meus jovens amigos, esta é a primeira resenha/recomendação que faço aqui no AKLO RPGs.
E o filme não poderia ser outro, senão o aclamadíssimo "Entrevista com o Vampiro"!
Entrevista com o Vampiro (no original em inglês: Interview with the Vampire) é um filme americano de suspense, baseado no livro homônimo da célebre escritora Anne Rice, autora da coleção Crônicas Vampíricas (ou Vampirescas), uma série de livros excelentes, cujos personagens vampiros e suas desventuras, inspiraram toda uma geração, influenciando o movimento gótico, os jogos de RPG (Vampiro a Máscara, alguém?), bandas de rock melódico, metal e góticas, entre várias outras camadas.
Estrelando Tom Cruise, Brad Pitt e Kirsten Dunst, o filme foi lançado em Novembro de 1994, recebendo grandes criticas positivas e indicação ao Oscar para os prêmios de melhor direção e de melhor trilha sonora. Kirsten Dunst foi ainda indicada ao Golden Globe por melhor atriz coadjuvante (e olha que ela só tinha 12 anos na época!). A ator Antonio Banderas também participa do filme, ainda que de forma mais rápida; assim como o ator Christian Slater, que também tem uma participação pequena, porém, crucial para a história.
Este filme apesar de ser baseado na obra de Anne Rice, possui um enredo bem diferente do livro, mantendo apenas os personagens principais, Louis, Lestat, Cláudia e Armand.
Alerta de Spoilers: Algumas pessoas não gostam de spoilers sobre filmes, livros, novelas, gibis ou o diabo que for, mas eu pessoalmente não ligo. Se você for uma dessas pessoas, NÃO CONTINUE LENDO! Porém, se você também não se incomoda com os ditos spoilers, continue lendo a matéria sem problemas.
A história é instigante: O filme começa num apartamento a noite, onde o jornalista Daniel Malloy (Christian Slater) está conversando com Louis (Brad Pitt), um sujeito "diferente", com uma aura meio sinistra, porém, magnética.
Louis então, revela ao jovem jornalista, que é um vampiro. Como todo ser humano racional, Daniel não acredita e pede ao "vampiro" que conte um pouco mais sobre sua condição.
Louis, fascinado com a atitude incrédula do jornalista, resolve então acender as luzes do apartamento, e numa sucessão de movimentos tão rápidos que os olhos não registram, liga o interruptor e senta a mesa, junto a Daniel; que neste momento, quase cai da cadeira com susto.
Daniel, assombrado com o ocorrido, pergunta a Louis como ele fez aquilo. A resposta de Louis não poderia ser menos impressionante:
- Uma série de movimentos simples, feitos tão rápido que seus olhos não puderam perceber.
Neste momento, Daniel liga o gravador, e pede a Louis que conte sua história. Louis diz então que possui 200 anos, começa a gravar a Entrevista com Vampiro.
Minha opinião
Simplesmente fantástico! Um dos melhores, senão o melhor, filme de vampiros que eu pude assistir. Tudo no filme impressiona: a fotografia, com suas paisagens, a caracterização dos personagens ao longo dos séculos, com roupas e acessórios acompanhando a passagem do tempo.
O cenário, em constante mudança, devido a passagem do tempo, nos mostra o quanto os imortais são deslocados em relação ao meio em que existem, mas ao mesmo tempo, mostra como são versáteis em se misturar, se chamar a atenção para si...
Os personagens, Louis e Lestat, tão diferente entre si, e ao mesmo tempo, tão semelhantes, em sua eternidade de negação e ódio.
E a trilha sonora então?! A melhor que eu já ouvi em filme até hoje! Começando com uma espécie de canto gregoriano, já antecipando a eternidade de tragédias dos personagens, com seus tons macabros, porém, profundos, até a música que encerra o filme, a Sympathy for the Devil (dos Rolling Stones, interpretado por Guns N' Roses), cada canção ilustra perfeitamente a cena onde está inserida. Cada um dos personagens possui uma música que ressalta suas paixões e ódios individuais, fazendo deste um verdadeiro Réquiem para os Imortais, inclusive, enquanto escrevia esta postagem, foi ao som da trilha sonora do filme, que consegue ser realmente... cativante.
E a pequena Cláudia, o que podemos dizer dela?
Um corpo eternamente infantil, porém, uma mente cada vez mais aguçada, manipuladora e cruel, conduzindo sutilmente a todos que a rodeiam; um espirito cada vez mais experiente e malicioso, preso no corpo de uma menininha dos seus 10 anos, um pouco mais um pouco menos. Uma eterna crueldade, amarga e rebelde, angelical e sedutora, e para aqueles que cedem aos seus encantos, arrebatadora e mortal.
Esta pequena personagem, e a atriz que a interpreta, também pequena e brilhante, me impressionaram fortemente, e mesmo 20 anos depois de assistir pela primeira vez, ainda fico impressionado com a relação de amor e ódio que se constrói entre ela e Louis, ao longo dos anos.
E se existe algo recorrente neste filme, são os sentimentos de ódio, melancolia e solidão, que acompanham todos personagens, durante toda a sua pós-vida, tanto entre eles mesmos quanto em relação aos mortais, os quais precisam matar para se alimentar.
Se existe algo a ser aprendido com os personagens de Anne Rice, é que não existem realmente inocentes e culpados, e sim, que todos estamos fadados a sermos atormentados por aquilo que temos de pior, durante o tempo que nos é reservado pelo Destino, impassível, inexorável e inevitável.
 |
| Seu monstro! |
Curiosidades
- A autora Anne Rice, originalmente queria que o personagem Lestat, interpretado por tom Cruise, fosse interpretado pelo ator Rutger Hauer (inclusive no livro A História do Ladrão de Corpos, da série Crônicas Vampíricas, através de uma fala de Lestat, ela indica isto);
- O personagem Louis, interpretado por Brad Pitt, que no filme perde a esposa e o filho durante o parto dela, no livro possuía apenas irmãos e mãe vivos, que eventualmente vão embora, deixando-o só com Lestat;
- No livro, Armand retorna com Louis para a América, após os eventos narrados no Teatro dos Vampiros, e no filme, Louis volta sozinho;
- O Filme é creditado como uma das principais influências para a criação do jogo Vampiro a Máscara.
Bom amigos, fico por aqui, e recomendo a vocês este filme, que mesmo chegando ao 20 anos de lançamento, continua sendo uma obra moderna e transcendental, muito bacana e imersiva.
Assistam, depois voltem aqui e me digam o que acharam.
PS: Pensei muito a respeito de qual deveria ser o primeiro filme do qual iria falar/recomendar/dar minha opinião, e cheguei a seguinte conclusão: que o filme tinha de ser aquele que mais impressionou na época em que o assisti, e que deveria assisti-lo novamente, e ver se ele ainda me causava esta impressão forte. E se me impressiona-se de novo seria ele.
E este filme, o Entrevista com Vampiro, conseguiu isto. Quase 20 anos depois de ter assistido pela primeira vez, o filme conseguiu me impressionar e cativar de novo. Principalmente a Cláudia.
 |
| Já faz mais de 20 anos Louis... |